OS CONCEITOS DE LUCRO

O que é o lucro?

 

Numa economia de livre iniciativa e de livre concorrência, o lucro é a parcela excedente das receitas, depois de subtraídos os custos. É o lucro que remunera o capital investido num empreendimento. Sem ele não existem empresas ou negócios.

Simples de entender, mas não tão simples de calcular ou decidir seu destino, para que o capital investido possa ser remunerado e os negócios sejam continuados.

Existem dezenas de conceitos diferentes de lucro, todos corretos e válidos, conforme a ótica observada e a finalidade desejada.

Vamos examinar comparativamente os principais conceitos e analisar como e quando devem ser utilizados.

O conceito mais conhecido e mais utilizado é o que define o lucro como sendo a diferença positiva entre as receitas obtidas com a venda de mercadorias e os custos necessários para obtê-las. Num exemplo simplificado, se uma mercadoria foi comprada por $100 e vendida por 120, obtivemos um lucro de $20. Esse é o conceito utilizado pela contabilidade formal das empresas. Então, se obtivemos um lucro de $20, esse lucro poderia ser distribuído como remuneração do capital investido, sobrando no “caixa” da empresa, os $100 originalmente aplicados. Esse conceito é conhecido como lucro calculado pelo custo histórico (ou custo médio de aquisição).

Como as atividades das empresas são contínuas, os $100 que sobraram no “caixa” da empresa após essa transação, serão utilizados para uma nova compra e posteriormente uma nova venda. Suponhamos que ao voltar ao nosso fornecedor para efetuar uma nova compra, a mercadoria que custava $100 esteja agora custando $105. Nesse caso, a empresa não teria dinheiro suficiente para efetuar um novo ciclo de operações, sendo necessário financiar essa diferença junto aos acionistas ou a um banco.

Para resolver esse problema, vamos utilizar um segundo conceito de lucro, que o define como sendo a diferença positiva entre a receita obtida com a venda de uma mercadoria e o custo de sua reposição para um novo ciclo de atividades. No nosso exemplo, segundo esse conceito, o lucro seria de $15 ($120 menos $105), e, nesse caso, a distribuição do lucro de $15 não afetaria o ciclo seguinte do negócio, pois a empresa teria o dinheiro necessário para efetuar uma nova compra e continuar operando normalmente. Esse conceito é conhecido como lucro calculado pelo custo de reposição.

Quando uma empresa trabalha com muitos produtos diferenciados, pode ficar bastante complicado o cálculo do lucro pelo custo de reposição. Para simplificar um pouco o processo de cálculo, existe a alternativa de calcular o lucro pelo valor do custo de aquisição corrigido pela inflação do período do ciclo dos negócios da empresa (período de tempo entre a compra, estocagem e venda dos produtos). Voltando ao nosso exemplo, supondo que a inflação do período fosse de 6%, o custo de aquisição corrigido seria de $106, e nesse caso o lucro apurado seria de $14 ($120 menos $106). Também nesse conceito, chamado de lucro pelo custo médio de aquisição corrigido, o objetivo é preservar o capital de giro da empresa, ou seja, a capacidade de continuar operando sem necessidade de obter recursos após a distribuição dos lucros.

Vamos agora olhar o lucro sob a ótica do empresário ou acionista, que investe dinheiro numa empresa, correndo o risco do negócio, com o objetivo de obter lucro que remunere esse investimento. Sempre existe uma aplicação alternativa para os recursos, com baixo risco e remuneração mínima (uma aplicação financeira num banco, por exemplo). Quando alguém investe dinheiro numa empresa, correndo o risco do negócio não dar certo, está, na verdade abrindo mão de uma alternativa segura ainda que com uma rentabilidade menor. Essa alternativa abandonada em favor da aplicação num negócio de risco maior é chamada, em Economia, de custo de oportunidade. E aqui surge um novo conceito de lucro. Para o empresário ou acionista, o lucro verdadeiro é aquele que excede o custo de oportunidade. No nosso exemplo, supondo que a alternativa em aplicar dinheiro na empresa fosse um investimento de risco mínimo com um retorno de 10%, o lucro do acionista, tomando por base o lucro contábil (baseado no custo histórico) seria $10 (o lucro original, $20, menos o custo de oportunidade, $10). Esse cálculo poderia ser feito também com o lucro apurado pelos conceitos de custo de reposição ou custo corrigido. Aqui usamos o custo histórico porque é com base nele que a contabilidade formal demonstra o lucro e apura a distribuição de lucros.

Recapitulando, numa simples operação exemplificativa, chegamos a, pelo menos, 4 valores diferentes de lucro: $20 pelo conceito de custo histórico, $15 pelo conceito de custo de reposição, $14 pelo conceito de custo corrigido, e $10 pelo conceito de custo mais custo de oportunidade.

Qual deles é o correto?

Na verdade, todos são corretos sob a ótica em que foram definidos e se forem usados apropriadamente. Se nosso objetivo é comparar o lucro entre várias empresas do mesmo ramo, o mais correto é usar o lucro apurado considerando o custo histórico, já que este, sendo o conceito usado pela contabilidade formal das empresas, tornaria a comparação consistente. Se nosso objetivo é apurar uma distribuição de lucros que preserve o capital de giro da empresa, deveria ser usado o conceito de lucro considerando o custo de reposição ou o custo corrigido. Se nosso objetivo é calcular o valor efetivamente adicionado ao acionista, deveria ser usado o conceito de lucro considerando o custo de oportunidade.

O conceito a ser usado depende da finalidade da utilização. Por isso é importante conhecer os vários conceitos e poder discernir qual conceito utilizar e quando utilizar.

Existem outros conceitos de lucro, assim como diferentes forma de organizar a atividade empresarial, que podem tornar essa analise bastante particularizada. O objetivo aqui foi enfatizar os principais conceitos, usando exemplos simples, com a finalidade de mostrar a importância de conhecê-los.

Finalmente, resta mencionar que como a contabilidade formal das empresas usa o conceito de custo histórico, é necessário preparar antecipadamente os sistemas contábeis (felizmente atualmente bastante flexíveis) para que todas as informações possam ser obtidas sem maiores dificuldades, facilitando a tomada de decisões.

Hélio Guerra é economista e administrador de empresas. Conheça mais sobre os serviços e as expertises que a Geraigire pode oferecer para a sua empresa. Acesse: WWW.GERAIGIRE.COM.BR

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